quarta-feira, 15 de julho de 2009

Relicário

“...o que não foi fotografado, corre o risco de se afogar na sombra incerta da lembrança.”
(Ítalo Calvino, em “Amores Difíceis)


Dias em que tenho pensado muito sobre fotografia me fizeram remexer o baú de imagens. Achei essa, que foi descoberta pelo meu irmão Emir, que tratou de reproduzir por meio eletrônico a todos os “interessados”. Ali aparecemos, jovens, crianças. Os primos Paulo e Maísa. Meus irmãos, Emir, Toninho e Lucio. A prima Betinha. O vovô Vidal e a vovó Didó, pais do meu pai, Emir. E um outro, que não sei quem é. E eu, a menorzinha, de vestido branco. Não lembro daquele momento. Mas era de festa. Natal, com certeza. As crianças têm presentes nas mãos.

Quando vi essa fotografia, tal seu poder de revelação da memória, foi como se me visse ali, de novo, na casa da vovó Didó, na rua da frente de Santarém, brincando no pátio com os primos, ouvindo de vez em quando um “pô-pô-pô” que vinha no rio, sabe-se lá pra onde. O som do barco, do radinho de pilha do vovô ouvindo o jogo, das histórias tiradas dos romances contadas pela vovó, do carinho sem fim da tia Edith, com aquele sorrisão e sua voz doce. Todos se foram. Vovô, vovó e a tia, que nem está na foto. Mas a foto a trouxe também.

Recordo de um acontecimento dos mais felizes, que os outros também devem ter na memória. O vovô Vidal, sério quase sempre, de poucos carinhos com os pequenos, mas de uma enorme atenção. No Natal, nos levava, eu e os outros netos, a uma loja para escolha do presente. Que alegria nos dava. Nos tempos apertados, papai e mamãe com esforço pra presentear os sete filhos, o vovô demonstrava o homem bom e amoroso, por traz da dureza do semblante.

Esse sentido da fotografia, se ser um objeto que aponta lembranças é para mim, talvez o seu mais forte poder. Roland Barthes, na Câmara Clara, diz “mostrem suas fotos a qualquer pessoa; ela mostrará também as suas: olhe, aqui está o meu irmão; ali sou eu quando era pequeno, etc. A fotografia nunca é mais do que um canto alternado de, Olhe, Veja, Aqui está”. O poeta Rilke, nas suas “Cartas a uma amiga veneziana”, escreve: “Cara e bela amiga, pela primeira vez só, diante do teu retrato, envolvo-me no silêncio da noite e te escrevo...contemplo tua beleza como qualquer jovem a quem se conta uma linda história de fadas”.

4 comentários:

Anônimo disse...

Lila, quanta saudade!
Olha, mas o "outro" que não sabes quem é não é "outro". E outra.
Não é a Marcinha.
Tenho quase certeza que é.
Abs.
Paulo.

Poster disse...

Corrijo, Lila:
Não é a Marcinha?
Tenho quase certeza que é.
Abs.
Paulo.

Anônimo disse...

Rogério....para Lila...

Linda qdo. pequena, qdo jovem e, imagino, depois que continua linda desde a ùltima vez q eu a vi em Belém...tomamos sorvete, conversamos bastante. ..ficou a amizade e a saudade...
Rogerio Santos...00 xx 1617 501 8792...
Medford - Massachusetts - USA

Anônimo disse...

Rogério....para Lila...

Linda qdo. pequena, qdo jovem e, imagino, agora, depois de tanto tempo sem vê-la...deve continuar linda desde a ùltima vez q eu a vi em Belém...tomamos sorvete, conversamos bastante. ..ficou a amizade e a saudade...
Rogerio Santos...00 xx 1617 501 8792...
Medford - Massachusetts - USA